quinta-feira, 10 de novembro de 2011

323 celulares apreendidos nas prisões: os números da incompetência do Sistema de Segurança Pública do Pará (Ou: "A vanglória dos próprios erros")




Devassa nas casas penais (Jornal Amazônia - edição de 09/11/2011)

Pente-fino nas cadeias do Estado resulta na apreensão de 323 celulares, 30 armas brancas e drogas

Trezentos e vinte e três celulares foram apreendidos, ontem, durante vistoria realizada nas 38 casas penais do Pará. Pela primeira vez, houve uma operação simultânea em todas as 20 unidades prisionais da Região Metropolitana de Belém e nas 18 localizadas no interior, segundo garantiram os representantes do sistema de segurança pública. O celular é o principal meio usado pelos bandidos para, de dentro das cadeias, organizar ações criminosas além dos muros dos presídios.

Houve apreensões, ainda, de 250 carregadores de celular, 94 baterias para esses aparelhos, 104 chips, 30 armas brancas (entre as quais facas de cozinha), 456 estoques (instrumentos produzidos dentro das cadeias e usados como armas durante rebeliões), e 2.270 unidades de entorpecentes, incluindo trouxas de maconha e petecas de cocaína. Nenhum preso foi flagrado usando esses materiais.

As autoridades do governo estadual destacaram o êxito da ação, denominada de operação Sentinela do Norte, que começou às 8 horas, terminou por volta das 16h30 e mobilizou cerca de mil policiais, civis e militares. Na Região Metropolitana de Belém e no município de Abaetetuba, a vistoria nos presídios contou com o apoio das tropas do Comando de Missões Especiais (CME) e do Batalhão de Polícia Penitenciária, ambos da Polícia Militar. Nos demais municípios onde há cadeias públicas, a revista teve o apoio do efetivo policial local.

O objetivo principal da operação era apreender celulares, armas, entorpecentes, estoques e bebidas alcoólicas nas cadeias. A ação integrada contou com a participação da Polícia Militar, Polícia Civil, Centro Estratégico Integrado, Núcleo de Inteligência Policial da Polícia Civil, Seção de Inteligência e Estatística da PM e Assessoria de Segurança Institucional da Superintendência do Sistema Penitenciário, sob a coordenação geral da Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup).

Subcomandante da Polícia Militar, o coronel Carlos Augusto Oliveira da Silva disse ontem à tarde, durante entrevista coletiva, que fazer revistas nas casas penais é algo rotineiro no Estado. A novidade, desta vez, é que houve uma ação simultânea em todas as casas penais da capital e do interior. Para o êxito da operação, ele destacou o trabalho integrado dos órgãos que compõem o sistema de segurança pública. "Foi uma ação articulada. E trabalhar de forma integrada é uma política do governo estadual", disse, para acrescentar: "O Estado é muito forte quando atua de forma integrada".

Risco de vazamento dita urgência da ação

Diretor do Centro Estratégico Integrado (CEI), Antonio Farias disse que essa operação vinha sendo planejada há algum tempo. Ele destacou que, apesar de abranger todo o Estado, os detalhes da ação não vazaram. Assim, foi mantido o sigilo, o que também foi fundamental para o sucesso da vistoria. "Tínhamos urgência em executar a operação, por causa do risco de vazamento", afirmou. Segundo Farias, os detentos foram pegos de surpresa com a fiscalização de ontem, para a qual foram fundamentais as informações apuradas pelos serviços de inteligência das polícias Civil e Militar.

Superintendente do sistema penitenciário do Pará, o major Mauro Barbas disse que os objetos apreendidos, entre os quais celulares, entram nas casas penais levados pelos visitantes dos presos e também por meio de funcionários. "Mas, geralmente, é por meio das visitas", destacou. O major não detalhou, mas, em muitos casos, as mulheres colocam os aparelhos telefônicos no órgão sexual. Uma revista "não eficiente" também contribui para a entrada de celulares nas canas penais, acrescentou o titular da Susipe.

O coronel Carlos, subcomandante da Polícia Militar, também chamou a atenção para o "fator humano": se houver pessoas interessadas, esses celulares chegarão às mãos dos detentos. Para esconder os celulares e demais objetos apreendidos, os presos usaram os pisos, as paredes, o esgoto e produtos artesanais que eles elaboram nas casas penais. O major Mauro Barbas afirmou que o Estado vai comprar detectores de metais, para, assim, tentar impedir a entrada de celulares nas cadeias.

Trabalho não tem relação com problemas em colônia agrícola

Tom Farias disse que a ação realizada ontem não está relacionada aos problemas verificados na Colônia Agrícola Heleno Fragoso, no município de Santa Izabel, entre os quais a facilidade que os presos tinham para entrar e sair da casa penal e as farras que faziam com mulheres em um igarapé que fica na área daquele estabelecimento prisional. "Não há vínculo (com a colônia). Essa ação já vinha sendo planejada", garantiu o diretor do CEI. "Isso (a ação de ontem) foi provocado por nós (Estado)", completou Mauro Barbas, que assumiu a Susipe depois que estourou o escândalo na colônia agrícola.

O coronel Saraiva Júnior, do Comando de Missões Especiais (CME), destacou que, há bastante tempo, esta unidade da PM realiza operações nas casas penais do Pará. E que, durante a revista de ontem, não foi verificada nenhuma situação diferente daquelas que, normalmente, são encontradas por policiais e agentes prisionais em ações desta natureza. Os celulares apreendidos serão encaminhados para o Núcleo de Inteligência Policial, da Polícia Civil, cujos policiais farão a investigação para saber a quem pertencem os aparelhos e como chegaram aos detentos.

Movimentação de policiais preocupou familiares de internas

Delegado-geral adjunto da Polícia Civil, Rilmar Firmino informou que promover e favorecer a entrada de celulares em casas penais é crime, cuja pena vai de três meses a um ano. Segundo o balanço divulgado ontem à tarde, o maior número de apreensões de celulares ocorreu no Centro de Recuperação Feminino (CRF), no município de Ananindeua, que abriga 609 internas. Foram 111 aparelhos e mais 108 carregadores. Diretor do CEI, Antonio Farias citou, ainda, as apreensões realizadas no Centro de Recuperação Penitenciário do Pará 1 (antigo Centro de Recuperação Americano 1), onde foram encontrados 33 celulares e o mesmo número de carregadores .

No CRF, a presença de policiais preocupou familiares das presas. "Fui informada de que estava acontecendo uma movimentação na penitenciária e resolvi verificar. Minha filha cumpre pena aqui. Por isso, me desloquei até a porta do centro para conferir do que se tratava", comentou a dona de casa Maria Dolores Silva, enquanto aguardava por informações do lado de fora da casa penal.

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