sábado, 29 de outubro de 2011

O açaí, a doença de chagas e o senso comum (Ou: "Um caso de generalização apressada")






Belém fecha pontos de venda de açaí após casos de doença de Chagas

Aguirre Talento
Folha de S. Paulo/Belém

Após um aumento de 80% nos casos de doença de Chagas em Belém neste ano, a Vigilância Sanitária do município interditou ontem cinco pontos de venda de açaí.

Os locais interditados não tinham documentação exigida e desobedeciam regras de higiene na manipulação do fruto e, por isso, apresentavam risco de contaminação.

Um dos problemas, por exemplo, era que um dos locais funcionava em uma estrutura de madeira -propícia para a proliferação do barbeiro, inseto transmissor da doença de Chagas.

No Pará, o açaí é preparado diretamente a partir do fruto, o que exige mais cuidados de higiene. Se as fezes do barbeiro caem no alimento, há o risco de que o consumidor seja contaminado.

No caso da polpa do açaí, que é produzida em escala industrial e exportada para outros Estados, o produto deve ser pasteurizado para eliminar riscos.

As interdições de ontem vieram depois de a Secretaria de Saúde de Belém descobrir que nove pessoas recentemente contaminadas pela doença haviam consumido açaí no mesmo bairro, na periferia da capital.

Vistorias nas casas dos contaminados descartaram a existência do barbeiro e reforçam a hipótese de contaminação pelo açaí em quatro locais do bairro do Telégrafo e em um do Jurunas.

"A evolução da doença pode ser mais rápida quando contraída por alimentos contaminados, se a pessoa ingerir uma quantidade grande dos parasitas", explica Elenild Góes, coordenadora estadual de doença de Chagas.

Neste ano, foram detectados 36 casos em Belém. O número é 80% maior que os 20 casos de 2010.

Em todo o Estado, até agora foram 89 casos, com dez mortes. No ano passado, foram detectadas 79 pessoas com doença de Chagas no Pará e seis morreram. Outros surtos da doença ocorreram em 2009 e em 2007. Na época, o açaí também foi apontado como transmissor.

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