Um texto, como uma aula, não tem o condão de dar conta de
toda a realidade. É e será sempre um recorte, segundo a ótica de quem o
elabora. Nesse sentido, sempre faltará algo a ser colocado e quem o lê, poderá,
a qualquer tempo, concordar ou contraditar os argumentos existentes em seu
bojo. Assim funciona a postura crítica. É no conflito que a Ciência e a
filosofia se instituem enquanto tal.
A escritora e atriz Fernanda torres, no texto de sua autoria
publicado na “Folha”, denominado MULHER, no geral, fez colocações muito pertinentes sobre o comportamento feminino, capaz de suscitar reflexões em
diversos sentidos, afinal o tema é complexo e controverso e pode ser abordado
em muitas matizes, inclusive do ponto de vista da autora, que é branca e de
classe média. Por isso achei extemporânea a forma como muitos internautas a
criticaram. Uma inconteste intolerância burra (como se existisse intolerância
inteligente).
Quando discordamos de uma ideia ou pensamento tornado
público, em um ambiente de liberdade de expressão, temos a possibilidade de
contraditá-lo, mostrando, se possível, as suas dissonâncias internas e a sua falta de ajustamento com a realidade. A crítica deve visar as ideias,
jamais o indivíduo que as elabora. Mesmo quando essas ideias não são da melhor estirpe,
o direito de externá-las é inconteste, pois não faz sentido que a liberdade de
expressão seja circunscrita aos bons pensamentos ou quando estiverem alinhados ao
entendimento da maioria. Falar MERDA também é um direito sagrado num ambiente
democrático.
Se admitirmos outra hipótese, instituiremos a ditadura dos
que falam o que a maioria quer ouvir ou uma “meritocracia intelectual”. SÓ OS
MAIS APTOS PODERÃO SE EXPRESSAR. Quem não for hábil como as palavras, ou vai
correr o risco de ser bombardeado de forma grotesca por aqueles que divergem da
sua maneira de pensar, ou vai “enfiar a língua no rabo”, como se falar MERDA
não fosse um componente intrínseco da liberdade de expressão.
São comportamentos como esses que, em determinados momentos
históricos, privaram o ser humano de ter acesso a teorias que não estavam de
acordo com a visão dos detentores do poder. É dessa forma que se institui um
controle da produção intelectual.
Por isso, se, de fato, vivemos num ambiente democrático, que
todos, inclusive aqueles que tem MERDA na cabeça (que não é o caso da Fernanda
Torres), possam dizer o que pensam, sem que um bando de despreparados tentem
reprimi-los de forma tosca.
"A crítica deve visar as ideias, jamais o indivíduo que as elabora...". Excelente, no entanto, dando sequência ao texto, no seu último parágrafo, parece-me que não se ajusta ao que foi anteriormente citado, pois "...um bando de despreparados..." preocupa-se em desqualificar pessoas e não ideias.
ResponderExcluirP.S.: estou criticando uma ideia somente. Obrigado.
Luiz Remista (kkk), você tem toda razão. Se vc analisar direitinho a expressão "um bando de despreparados" não se refere a alguém especificamente, pois o sujeito é indeterminado, logo não estou me referindo a uma pessoa real, mas a um perfil moral que se caracteriza por não atacar o discurso de outrem, mas quem o prolata, por isso a expressão "despreparados". Aproveitando o ensejo, torcer pelo papão é de um despreparo colossal. kkkkkkkkk. Um abraço!
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