O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária
(Conar) considerou "desrespeitosa" para as mulheres a propaganda do
Bom Negócio em que Compadre Washington fala o já famoso bordão "Sabe de
nada, inocente" e determinou que seja alterado um trecho do comercial.
A expressão considerada ofensiva é "ordinária",
dita pelo cantor no meio da propaganda. No filme, Washington desaparece antes
de terminar de falar a palavra. O Conar entendeu, porém, que o termo fica
"perfeitamente compreensível" para o público.
Sem dúvida alguma o termo “ordinária” foi empregado em
sentido pejorativo, denotando algo como “vadia”, “vagabunda” ou qualquer outro
conceito relativo à falta de atributos morais da personagem feminina do
comercial, mas é preciso reconhecer que o emprego desse termo é perfeitamente
coerente com a ideia geral que o discurso se propôs a transmitir.
Para quem não assistiu a propaganda vou, na medida do
possível, sintetizá-la: “Uma bela mulher vai
entrando numa piscina e o marido está sentado numa cadeira, na pérgola.
Washington, personalizando um aparelho de som, inicialmente elogia os atributos
físicos da mulher. Depois, dirige-se ao marido ressaltando a sua ignorância
sobre o comportamento moral da esposa. Em seguida a chama de ordinária. Neste
momento a imagem de Washington desaparece, significando que o objeto baldio,
por ele representado, foi comercializado. ”
É preciso considerar que a personagem representada pelo Compadre
Washington tinha de ser inconveniente e contundente na maneira de se expressar
para “justificar” a vontade de o proprietário vender o objeto por ele
representado. A palavra ORDINÁRIA, portanto, foi empregada num contexto totalmente
lógico e sistemático. Somente se fizermos uma ampliação apressada desse
conceito e o retirarmos do contexto onde foi empregado é que podemos
considerá-lo ofensivo ao gênero feminino como um todo, o que, indubitavelmente,
não foi o caso.
Mas o que parece relevante nessa pendenga é o fato de algumas
pessoas entenderem que a propaganda precisa ser modificada e a palavra “ordinária”
retirada para que o comercial continue a veicular normalmente. Ao revés, penso que
o cerne da questão não está na propaganda em si, mas na maneira de interpretá-la.
O preconceito nunca está no discurso, mas na incapacidade de o sujeito perceber
a sua inconsistência, ou seja, somente os “burros” acreditam nas mais
estapafúrdias combinações de palavras.
Se alguém diz que as loiras são “burras”, por exemplo, “burro”
é ele próprio que não conseguiu perceber que a cor do cabelo nada tem a ver com
a habilidade intelectual de alguém. Uma sociedade inteligente não faz
restrições ao uso de certas palavras, mas habilita os seus integrantes a
compreender o verdadeiro alcance e sentido das mesmas, e assim não se deixem impressionar
com combinações equivocadas de conceitos.
Por essas e outras a palavra “ordinária”, empregada na
propaganda do site de compras Bom Negócio, jamais poderia ser censurada, porque
no fundo e no fim quem de fato é ordinária é a mentalidade de quem confere às
palavras significados que elas nunca possuíram.
professor gostaria que o sr. me tirasse uma dúvida jurídica!
ResponderExcluirwaldiney