Ninguém vai me surpreender
Na noite da solidão
Pois quem
Tiver nada pra perder
Vai formar comigo o imenso cordão
E então
Quero ver o vendaval
Quero ver o carnaval
Sair
Ninguém
Ninguém vai me acorrentar
Enquanto eu puder cantar
Enquanto eu puder sorrir
Enquanto eu puder cantar”
(Cordão – Chico Buarque)Quero ver o vendaval
Quero ver o carnaval
Sair
Ninguém
Ninguém vai me acorrentar
Enquanto eu puder cantar
Enquanto eu puder sorrir
Enquanto eu puder cantar”
Introdução
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O pós-modernismo pode ser explicado, grosso modo, pela descrença nas METANARRATIVAS humanas, sejam filosóficas, religiosas, científicas ou de quaisquer outros tipos. Uma meta-narrativa é um discurso com o qual se tenta justificar outro discurso. A construção de uma ponte, por exemplo, pode ser explicada pela Ciência, mas quando o homem tenta explicar o porquê que tê-la construído, ingressa no campo dos metadiscursos. Nesse contexto, a pós-modernidade não é simplesmente um fenômeno temporal, mas uma condição que se caracteriza pela tentativa de destruição desses tipos de discursos.
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O pós-modernismo pode ser explicado, grosso modo, pela descrença nas METANARRATIVAS humanas, sejam filosóficas, religiosas, científicas ou de quaisquer outros tipos. Uma meta-narrativa é um discurso com o qual se tenta justificar outro discurso. A construção de uma ponte, por exemplo, pode ser explicada pela Ciência, mas quando o homem tenta explicar o porquê que tê-la construído, ingressa no campo dos metadiscursos. Nesse contexto, a pós-modernidade não é simplesmente um fenômeno temporal, mas uma condição que se caracteriza pela tentativa de destruição desses tipos de discursos.
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Foucault é considerado um filósofo pós-moderno porque ele combate uma
meta-narrativa construída na modernidade: a
do sujeito, enquanto aquele que, ao praticar uma ação, é considerado
livre, consciente e responsável.
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Para o filósofo, o
sujeito tem o seu estatuto ontológico questionável. Por isso não seria correto
dizer, por exemplo, que “devemos educar as crianças para que elas criem a
própria história”, visto que, ao revés, seria a história, com seus feixes de
relações de poder, que institui interinamente os sujeitos.
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Essa crença no sujeito
como algo autônomo e estável ocorreu, segundo Foucault, em razão da
subjetividade da ética moderna. A ética do DEVER (Kant) parece objetiva, mas, de
fato, seria subjetiva, posto que o dever reside na consciência do sujeito,
dando a impressão de que ele é capaz de comandar as próprias ações. Essa
forma de pensar o sujeito, como aquele que PENSA, FALA E PRODUZ não passaria de
mais uma invenção da filosofia moderna. A rigor ele seria pensado, falado e
produzido.
Para desconstruir essa
visão metafísica do sujeito, Foucault empreende uma pesquisa histórica que o
faz crer que, em qualquer sociedade, o corpo está preso no interior de poderes
muito apertados, que lhe impõem limitações, proibições ou obrigações,
instituindo um indivíduo obediente que é produzido e sustentado por um poder
pouco notado e difícil de denunciar: um poder que circula através dessas
pequenas técnicas, numa rede de instituições sociais tais como a escola.
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Sobre o sujeito e a liberdade: “não há relação de
poder entre sujeitos livres”
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Foucault não cansou de
reafirmar o objeto maior dos seus estudos: as
relações do sujeito com a verdade, isto é, a maneira como as verdades construídas
em determinados momentos históricos produziram diversos tipos de sujeitos. Por
isso, segundo o filósofo, “não existiria relação de poder entre sujeitos
livres”, pois, sendo o sujeito um produto de um saber/poder, necessariamente
ele não seria livre, e, logicamente, sequer seria sujeito.
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Mas o filósofo não
trabalhou com a noção de sujeito transcendental, possuidor de uma essência
perene, mas como algo que decorre do processo histórico. Também investigou sob
quais condições surgiu a crença de o sujeito possuir consciência e liberdade,
enquanto atributos que lhe permitem exercer o poder, mas, ao contrário, considerou
que é o poder que o forma. Em outras
palavras, os sujeitos seriam espécies de núcleos de poder que existem no
universo, seja enquanto indivíduo, classe social, governo político ou
qualquer coisa que exerça o comando.
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O sujeito não serial
algo essencial e constante, mas fruto de uma trama de poder existente no mundo
humano. Logo, possuiria natureza relacional e dependeria das tecnologias de
controle desenvolvidas. Na Modernidade, o papel de mando teria, segundo o
filósofo, sido transferido para as instituições, que o exerceram por meio de mecanismos disciplinares, com os quais
vincularam os indivíduos a certas identidades, fazendo-os DÓCEIS, ÚTEIS E
PRODUTIVOS.
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A disciplina possui o
seu fundamento no desenvolvimento de uma tecnologia ligada a novas formas de
relação de poder que se estabeleceu a partir do Séc XIX, principalmente no
âmbito de certas instituições, como a prisão, exército, escola, hospital, etc.,
para que o exercício do poder fosse menos custoso, tivesse o máximo de
intensidade e melhorasse o rendimento dos aparelhos institucionais, tudo em
consonância com os interesses da nova classe que se instalava no poder: a burguesia.
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A disciplina não é o
tipo de dominação que restringe, apropria e conduz o indivíduo, mas
preserva-lhe certa liberdade. O método da coerção aparente e constante, próprio
da escravidão, domesticidades, vassalagem e ascetismo, não eram producentes do
ponto de vista econômico, logo se instituiu uma política de coerções sutis para
gerar a obediência querida.
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Assim os indivíduos criaram uma falsa idéia da liberdade, a partir do
momento que foram considerados um produto da ação disciplinar, construídos para
pensar que são livres e autônomos. Com o advento da disciplina houve uma mudança radical na forma de
punição. A sanção não se tornou mais branda nem menos efetiva, só deixou de
atuar diretamente no corpo e passou a
ser aplicada na alma visando a submissão por meio de três mecanismos: A vigilância hierárquica, a sanção
normalizadora e o exame.
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A vigilância hierárquica, principalmente a partir do séc. XIX, objetivou
permitir uma completa observação das atitudes humanas. As instituições se
tornaram verdadeiros laboratórios onde essas técnicas foram implantadas
gradativamente, tendo como princípio o escalonamento do exercício do poder nos
diversos níveis hierárquicos existentes. Os níveis mais altos fiscalizavam os
mais baixos.
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A vantagem dessa
tecnologia é a sua capacidade de não ser necessária a observação constante, mas
a consciência de visibilidade que ela suscita, assegura a continuidade dos seus
efeitos, mesmo que as ações fiscalizadoras não sejam constantes.
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Um clássico exemplo
desse mecanismo de tecnologia disciplinar é o Panóptico de Bentham, que é uma edificação em forma de anel na
periferia do conjunto com uma torre situada estrategicamente no centro. Daí as
disposições das carteiras escolares, dos leitos hospitalares, das máquinas nas
fábricas, dos acampamentos militares e das celas das prisões.
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A sanção normalizadora atua sobre os pequenos atos humanos, exatamente
nos espaços vazios deixados pelas leis e sistemas penais, regulando
procedimentos sutis que dizem respeito a utilização do tempo, as formas de
pronunciamento dos discursos, como os indivíduos usam o corpo e a sexualidade,
etc. Ela atua em todas as ações que possam causar prejuízo a economia. Para
tanto ela isola o infrator para que o “mau exemplo” não afete o todo e corrija
a atitude considerada incorreta.
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Além das punições, esse
mecanismo usa a estratégia de um sistema de recompensas com a função de
classificar a conduta, isolando o comportamento. No entanto ela vai além ao
permitir o reconhecimento de índoles e valores que devem ser cultivados ou
abandonados. Mas longe de ser uma tecnologia de repressão é, antes de qualquer
coisa e essencialmente, uma técnica voltada para uma operacionalidade:
diferenciar os indivíduos em relação uns aos outros e em função dessa regra de
conjunto que se deve fazer funcionar como base mínima, como média a respeitar
ou como o ótimo que se deve chegar perto.
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Nesses termos, a sanção
normalizadora busca homogeneizar os indivíduos, visto que a singularidade é o
que leva a “comportamentos desviantes”. Mas não procura igualar a todos, posto
que a sua eficácia reside na capacidade de normalizar e, ao mesmo tempo, manter
a individualidade.
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O exame é a junção da vigilância e sanção normalizadora, gerando três mecanismos
essenciais da disciplina: inversão de visibilidade, arquivo e
individualização dos casos.
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Diferente do poder real,
agora quem fica em evidência é o indivíduo, sujeito a uma observação regular
que o coloca em situação de exame quase perpétuo. A escola, o hospital, a
fábrica e o quartel são espécies de aparelhos de exame ininterrupto.
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Forçado a se manifestar,
o indivíduo é constantemente vigiado pela tecnologia do exame, viabilizando a
manutenção de um arquivo sobre ele, cujos detalhes são documentados para
serem utilizados quando necessário.
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O registro do exame permite
manter a singularidade que aparece em cada individualidade, com seus desvios,
traços particulares, aptidões e capacidades. O domínio desses elementos
viabiliza a constante normalização dos indivíduos, que, como já foi dito, não
significa uniformização, mas adequação a um dispositivo.
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O indivíduo objetivado
transforma-se em um “caso” que pode ser utilizado como peça de um
dispositivo estratégico em diversas situações. Nessa categoria entra a criança,
o louco, o doente, o condenado, etc.
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Portanto a disciplina é um “dispositivo” cujos
mecanismos permitem a realização das grandes funções disciplinares que
constituem o sujeito moderno, deixando-o com características bem definidas:
docilidade, utilidade e sensação de autonomia. Isso porque o poder disciplinar
põe em funcionamento uma rede de procedimentos que atinge os aspectos mais
sutis da realidade e da vida cotidiana dos indivíduos, podendo ser
caracterizado com um micropoder que se capilariza e consegue se fazer presente
em todos os pontos e níveis da rede social, tendo em vista a sua utilização e
aproveitamento no sistema econômico emergente.
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Assim é o indivíduo:
alvo dócil ao poder; mas ao mesmo tempo seu veículo, agente e instrumento. É
objeto e ação, ao mesmo tempo, pois a sua disciplinação depende diretamente de
sua vontade e de sua participação ativa; no entanto, possui sua própria razão
e, nesse sentido, “é também intersubjetivamente sujeitado pelo fato de que ele é
governado externamente por outros e internamente por suas própria consciência”
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O “cuidado de si”: Uma possibilidade de
resistência.
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Para que o indivíduo se mantenha fora de um
ambiente de dominação, ou tornando-a positiva, já que o próprio poder a produz
para se manter em atividade, Foucault pensa que é necessário observar todos os
detalhes, e ser extremamente prudente e empírico: só no seu exercício se pode
decidir se a relação de poder é boa ou ruim. No entanto, não existe, na
concepção do filósofo, um exterior ao poder, pois ele é o princípio de
funcionamento do mundo contemporâneo. Mesmo assim, como é possível atenuar
as investidas da sociedade disciplinar ou opor certa forma de resistência, já
que o
grande desafio hodierno, na perspectiva da genealogia realizada por Foucault, é
produzir e reproduzir conhecimentos capazes de se insurgir contra a dominação
que as próprias ciências do homem ajudaram a criar e a aperfeiçoar?
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Como resposta, Foucault se remete a “outro tipo
de pedagogia, a um outro tipo de educação: àquela exercida sobre si mesmo, que
chamará de subjetivação, contrapondo-a à sujeição, princípio que rege a escola
em nossa sociedade”. Surge então as técnicas de si ou, como outros poderiam
chamar, ética do sujeito, como uma forma de os sujeitos se constituírem numa
prática reflexiva consigo mesmo. Há então uma mudança: de uma leitura política
focada nos dispositivos e tecnologias do poder, para uma relacionada à ética,
às condutas de si, inventando, assim, novos modos de subjetivação, novos
estilos de vida individual, mas também social, para além das objetivações impostas
pelas tecnologias de dominação do poder.
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A disposição dos alunos em
círculo, diferente das tradicionais fileiras, abre a possibilidade de que todo
estudante manifeste sua opinião e de que seja ouvido, porém, Foucault considera
que as práticas educacionais libertadoras não têm nenhum efeito garantido. Por
isso, “o importante não é que se aprenda algo ‘exterior’, um corpo de
conhecimentos, mas que se elabore ou reelabore alguma forma de relação
reflexiva do ‘educando’ consigo mesmo”. A questão não é ir atrás de um princípio
fundamental e geral em que se assentaria o poder, mas examinar os agenciamentos
em que se cruzam as práticas. Nesse sentido, a idéia não é dar
questões fechadas como soluções ou para um bloqueio ao poder, mas fornecer
propostas, questões abertas que permitam o exercício da dúvida e da crítica.
Assim, “a fim de comportar-se apropriadamente, de praticar a liberdade
apropriadamente, era necessário cuidar do eu, nao meramente para conhecer o
próprio eu, mas também para melhorá-lo, ultrapassá-lo, dominá-lo.
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As práticas de si refletem uma maneira, definida
pelo filósofo como conduta, de fiar a si mesmo uma auto-gestão. Com isso
proporá o termo conduta como aquele que mais bem capta o que há de específico
nas relações de poder. A conduta pode ser caracterizada pela maneira de
conduzir os outros bem como a maneira de se conduzir a si mesmo. Para ele,
será um bom governante aquele que souber governar (e bem), a si mesmo. Dessa
forma, a reflexão funcionaria como uma ferramenta do indivíduo que, sabendo
mais que os demais, colocar-se-á como um gestor de recursos humanos, ou um
líder, como prefere o sistema das organizações modernas. No entanto, a
noção primeira de sua ontologia do presente não pode ─ e nem há de fato um modo, pelo seu caráter
realístico e talvez absolutamente preciso ─ ser
descartada: mesmo observando das técnicas do controle de si para constituir-se
a si mesmo, cabe-se demarcar a influência dos poderes do ramo das disciplinas,
dos controles dos corpos individuais e coletivos, através do poder da norma e
de suas sanções.
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Para uma cultura de si é preciso afirmar certa
posição crítica perante o senso comum; não se deixar influenciar pelas opiniões
sem fundamento e aprender, pela prática de si, a desaprender. Mais do que
formar é preciso munir o indivíduo com a coragem e os instrumentos necessários
para o combate, a fim de que ele não abra mão do que é mais importante: A
liberdade de ter um domínio sobre si mesmo, de ser capaz de empreender perante
a vida e de ação cada vez mais potente.
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A força ética da cultura de si é o trabalho de uma
autonomia que garanta ao indivíduo ser o que ele é. Ser dono de si mesmo. Ter
um controle das paixões constituindo a si mesmo somo “sujeito” que opera uma
racionalidade em prol da liberdade.
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Conclusão
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A ética ou o domínio das técnicas de si podem,
talvez, amenizarem os efeitos do poder disciplinar sobre os corpos individuais,
entendo a ética do sujeito como uma noção diferente da kantiana, universalista;
a de Foucault é focada apenas no sujeito, nas práticas que possui consigo
mesmo, na construção de sua própria subjetividade, na sua sujeição per se. O
cuidado de si apareceria como uma conversão ao poder, ou seja, uma forma de
controlá-lo. Essa é a proposta para uma possível investida contra o poder: uma
inspiração foucaultiana caracterizada por uma postura de completa e permanente
desconfiança sobre as formas discursivas ou de verdades instituídas, tomadas
como naturais; um quadro parecido como o do próprio poder: se ele é constante,
a reflexão assim também o deve ser; se é consentido, devemos problematizá-lo;
se produz identidades, devemos moldá-las a nossa forma, colocando a vontade
individual como parâmetro. A regulação sempre existirá no ambiente
pedagógico, mas devemos repensá-las, no âmbito da educação, promovendo da
auto-reflexão, pois o poder definitivamente não é o mal: compreendê-lo assim é
desistir da liberdade, pois só há relações de poder onde há liberdade.
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Como Foucault nos mostra, ao estudar a Antiguidade
greco-romana, para ser um bom governante é preciso primeiro governar a si
próprio. Assim, as técnicas de si ou do eu, formas através das quais o sujeito
se auto-constitui enquanto senhor de seus atos, poderiam ser caracterizadas
como um exercício de si sobre si mesmo.
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Nem mesmo o próprio Foucault coloca a sua filosofia
e seus diagnósticos como uma verdade pronta e estática. Uma pedagogia crítica
de inspiração foucaultiana traz como um dos seus objetivos a reflexão,
colocando o indivíduo numa situação de cuidado em não ser em demasia controlado
– sendo esta talvez uma possível solução para essa questão – e para tanto,
servindo como um contradomínio na ação pedagógica, onde a idéia de liberdade
coloca os indivíduos para além dos estados de dominação. Cabe, no entanto, a
cautela, pois o poder também possui sua positividade, que para ele está
atrelada a um estado de visibilidade: será na própria relação que se definirá o
lado produtivo ou não, de sua ação.
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